domingo, 1 de junho de 2014

“Consideramos justa toda forma de amor...”, entoa Lulu Santos, em um clássico que, desde o fim dos anos oitenta, é cantado por milhões de brasileiros, como um mantra da pura e justa verdade. Mais de duas décadas e meia após o lançamento do hit, uma pergunta ainda paira no ar: “Consideramos justa mesmo?" Nesse contexto, o filme “Praia do Futuro”, protagonizado pelo OMG Wagner Moura, pode soar como uma prova de fogo.



Wagner Moura é o salva-vidas Donato, em Praia do Futuro

O filme, cujo eixo principal gira em torno de uma relação homossexual entre Donato, bombeiro brasileiro interpretado por Moura, e o turista alemão Konrad (Clemens Schick), vem causando muita polêmica por aí. Em João Pessoa, por exemplo, os bilhetes estampavam um carimbo “Avisado” para que ninguém se sentisse 'aviltado' pelas cenas de sexo gay que o longa apresenta. Além disso, há relatos de pessoas que, “desavisadas sobre o conteúdo da obra”, chegaram a deixar as salas de alguns cinemas cinemas. Com todo esse bafafá, o Décimo Andar, claro, decidiu dar uma espiadinha.

 Em João Pessoa, os ingressos tinha um carimbo alertando para cenas de sexo

Na história, Donato é salva-vidas na Praia do Futuro, no nordeste brasileiro, e o seu encontro com o futuro amor acontece a partir de uma tragédia: dois turistas estavam se afogando no mar e ele consegue salvar apenas um. Paralelamente, é apresentada no enredo a admiração que o irmão mais novo do protagonista, Ayrton (Jesuíta Barbosa), tem por ele. Em meio à tragédia da morte, a relação do brasileiro e do estrangeiro se estreita – nesse caso, como com em muitas histórias de amor, sexo é uma parte bastante relevante. Ao finalizarem as buscas, Konrad volta para a sua terra natal, Berlim. Donato, então, troca o cenário tropical de Fortaleza por uma temporada na gélida cidade europeia.

Donato deixa tudo para trás e resolve não voltar para o Brasil. Obviamente, sem notícias, o amado irmão caçula sai em busca de seu herói perdido, anos mais tarde. E isso desencadeia mais uma série de acontecimento que, sim, você precisa acompanhar para saber o desfecho.

A saga do protagonista é cheia de dúvidas e ponderações, que são acentuadas por uma bela fotografia e diálogos simples, secos e sem qualquer traço de prolixidade. No longa, dirigido por Karim Ainouz, cenas um tanto mudas, e até um tanto lânguidas, obrigam o espectador a participar, inferir e preencher espaços onde a linguagem não-verbal impera. O drama consiste apenas em gestos, olhares e emoções; em uma proposta apresentada como se fossem capítulos de um livro: “O abraço do afogado”, quando a desgraça e o amor acontecem; “O herói divido em dois”, momento em que Donato não sabe se volta para a família ou constrói uma vida baseada na honestidade de quem ele é; e “um fantasma que fala alemão”, parte em que o irmão caçula vai prestar contas sobre o passado.

Donato e konrad em cena


Quanto às polêmicas, as cenas de sexo que permeiam o longa existem, mas não são gratuitas, não destoam e, dentro do contexto, carregam o drama e a intensidade de duas pessoas que se amam. Sem culpa, sem medo. As sequências são colocadas de uma forma em que a poesia acaba dando o tom das cenas.

Então sobre a pergunta que foi feita, eis a reposta: “Consideramos genuinamente justa” essa que é uma bela forma de amar. Além do mais, essa é uma maneira de, inclusive, fomentar representatividade e a diversidade do cinema, que, como arte, não pode ser cerceada. Nesse contexto, preconceito soa pequeno, uma chaga que assola a criatividade.

Vale ressaltar que, reconhecendo o talento do Jesuíta e do Clemens, o Capitão Nascimento – que também é o Cientista Zero, em o “Homem do Futuro”; o hacker Spider no Hollywoodiano “Elysium”, entre outros – continuou travando batalhas, e se desafiou em fugir totalmente do lugar comum que seu personagem mais famoso demandou. Wagner Moura é plural. E a pluralidade, que, em suma, caminha lado a lado do bom senso sempre se sobressai.

Imagem postada na página do filme, após a polêmica do carimbo

Voltando a Lulu Santos, percebemos que Donato precisou abdicar de seu tradicional mundo para, mesmo que pela primeira vez, "voltar para casa", como na canção...


Curiosidades:

--> Clemmens Schick disse que não se deu bem “logo de cara” com Wagner Moura. Mas, ao longo da preparação do filme, esse quadro foi mudando. Hoje, segundo ele, são grandes amigos;

--> Clemmens foi o vilão do “007 – Casino Royale ”, de 2006;

--> Praia do Futuro foi apresentado em fevereiro, no Festival de Berlim.


Trailer: 


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Um comentário:

  1. Gente, isso é um absurdo!! O Azul é a cor mais quente não foi avisado né? Será que é porque são duas mulheres lindas e gostosas se esfregando? Que isso, muito machismo!

    http://segredosdeumagueixa.com/

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