domingo, 6 de abril de 2014



A história de um menino cego buscando sua independência enquanto descobre sua sexualidade e a paixão por um novo amigo de escola poderia ser um filme de sucesso no Brasil? Anos atrás a resposta para essa pergunta seria provavelmente um grande não, mas as coisas estão mudando. Não estou falando só por conta da temática gls, mas porque cinema no Brasil é extremamente difícil de se fazer - verbas curtas, pouco incentivo, falta de interesse do público por produções nacionais - e apesar de estarmos avançando muito ainda é um desafio. 

"Hoje eu quero voltar sozinho" não é só um filme encantador (apesar de ser muito adorável), é também um filme diferente de tudo que a gente costuma ver no cinema nacional. Não sou expert em cinema brasileiro, longe disso, mas eu nunca tinha visto um filme desse estilo causar tanta expectativa no país antes. Temos alguns estilos definidos de filmes que fazem sucesso no Brasil: os que mostram a violência e a pobreza ("Cidade de Deus", "Tropa de Elite"), os biográficos ("Cazuza", "Somos tão jovens") ou as comédias recheadas de globais. Não tiro o mérito de nenhum desses filmes, pelo contrário, mas fico feliz que outros estilos estejam ganhando destaque. 

Voltando ao filme, ele é incrível por várias razões. Quem chegou a ver o curta "Eu  não quero voltar sozinho", viu um filme mais focado na história do primeiro amor, com todas as barreiras, mas de uma delicadeza incrível. O longa é muito mais do que isso, não é a história do Leonardo e do Gabriel só. É a história do Leonardo, toda ela. Como ele busca sua independência, como ele tenta lidar com uma mãe super protetora, como ele convive com a deficiência visual, a relação dele com a sua melhor amiga Giovanna e, com certeza, a descoberta da primeira paixão com o Gabriel. 

Falando desse filme, é impossível não parabenizar o Ghilherme Lobo que faz o Leonardo. Primeiro que todo mundo fica chocado quando descobre que ele não é cego. Porque ele passa essa cegueira de forma tão verossímil, levando-se em conta que ele é uma ator extremamente jovem em um dos seus primeiros (se não for o primeiro) papel. E não só em relação ao olhar, mas como ele se move, a emoção que ele passa, as angústias...é incrível! 


Outro ponto alto do filme é a Giovanna. Na coletiva que eles deram depois da cabine, o diretor Daniel Ribeiro falou que muitas pessoas reclamavam da Giovanna no curta. Ela era quem ficava entre o casal principal, quem atrapalhava. Mas isso fica longe de acontecer no longa. Apesar de toda a história da Giovanna no filme estar atrelada ao Gabriel, ela dá seus próprios passos. Ela é a melhor amiga, a confidente, a companheira, o alívio cômico e porque não, a cupida também. E toda as nuances da amizade dela com o Leonardo é incrível. Ela é ciumenta, sente que foi trocada pelo Gabriel, mas quando chega o momento dela estar ali para o Léo, ela está e acaba sendo fundamental para a relação dos meninos se desenvolver. 

Em relação a outra ponta dessa tríade, o Gabriel é o personagem mais simples mas não menos interessante. O melhor em relação a ele é ver como mesmo ele se atrapalhando muito com o fato do Léo ser cego e cometer diversas gafes - como chamar ele para ver o eclipse, por exemplo - ele consegue ser um dos que mais ajuda o Léo. Como levar ele para o cinema pela primeira vez e comentar o filme com ele ou utilizar pedras para explicar como acontece um eclipse. Essa, aliás, é minha cena preferida. 

Meu maior medo nesse filme era que ele perdesse a delicadeza do curta, porque o diretor afirmou que, até por os atores serem agora maiores de idade, ele poderia ampliar a relação física dos meninos, que no curta fica reduzida a um leve selinho no final. Como um amigo meu disse, o curta é tão sensível que era quase assexuado. Eu discordei, porque acho que a sexualidade não está só ligada a beijos e ao ato sexual em si, mas também a pequenos toques, cheiros, sensações e isso tudo estava presente no curta. Mas, para minha tranquilidade, esse despertar da sexualidade deles foi na medida certa com duas cenas bem tranquilas que mostram como qualquer jovem de 16, 17 anos se relaciona com isso. 

Apesar de não ser original para o filme, a trilha sonora é quase um personagem à parte. Duas músicas se destacam para mim: "There's too much love", da banda Belle e Sebastian que dá todo o toque do filme e amarra direitinho toda essa história e "Janta", do Marcelo Camelo, que era uma música que já estava no curta e todo mundo pedia para estar no longa também. 

Importante lembrar: o filme não é uma continuação do curta, é um desenvolvimento maior dele. Então, em determinados momentos do longa, não se espantem em reconhecer alguns diálogos do curta que são idênticos mesmo. O filme estréia essa semana, dia 10, quinta-feira. É minha maior recomendação de filme no blog até agora, não deixem de ver mesmo! Esse filme mereceu cada prêmio e aplauso que recebeu! É sempre bom a gente prestigiar o que tem de bom no cinema brasileiro para que ele possa continuar se expandido e que a gente continue sendo brindado com filmes como esse!



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3 comentários:

  1. Esse filme super merece os prêmios que ganhou. Tanto o curta quanto o filme são incríveis, vale super a pena conferir. ^^

    Blog Profano Feminino

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  2. Fiquei morrendo de vontade de assistir o filme, o curto eu já assisti e gostei muito!
    E o ator não é cego? fiquei chocada como ele trabalha bem e passa toda a vericidade para nós!
    beijos
    www.oestranhomundodecamila.wordpress.com

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  3. Nooossa! Fiquei muito afim de assistir o filme.
    Nunca tinha ouvido falar (onde eu estava que nunca vi nada disso??? hahaha)
    Adorei seu post! Muito bem escrito e explicado.

    http://dudaeilert.blogspot.com.br/

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